O gigante acordou!


A frase-símbolo das manifestações de rua que eclodem por todo o Brasil, nos últimos dias, parte do princípio de que ...
“O gigante acordou!”
A frase-símbolo das manifestações de rua que eclodem por todo o Brasil, nos últimos dias, parte do princípio de que a nação estava acomodada ou, ao modo do Hino Nacional, deitada eternamente em berço esplêndido. O que não corresponde, exatamente, à verdade.
Não é de hoje que sindicatos, como o Sintsef-BA, centrais sindicais, como a CUT e entidades como a Condsef levam seus protestos às ruas e conclamam a população a unir-se à sua luta. Longe de ser novidade para nós, ou pertencerem a um passado distante, manifestações populares fazem parte de nosso cotidiano. Desde sempre lutamos em defesa de um mundo melhor, com inclusão social, igualdade de oportunidades e uma maior atuação do Estado em proporcionar serviços públicos gratuitos e de qualidade para todos e todas.
Por isso mesmo, o Sintsef-BA endossa o manifesto divulgado pela CUT e centrais sindicais (leia aqui) e considera que as manifestações são absolutamente legítimas e democráticas. Também como as Centrais, repudiamos tanto o vandalismo quanto a desmesurada repressão policial contra uma manifestação legítima que se propõe pacífica, desde o início. Polícia é para quem precisa de polícia, como diz a canção.
Todas as grandes conquistas da classe trabalhadora e dos movimentos populares (mas não apenas deles) foram fruto de intensas reivindicações, de uma luta organizada e difícil. O Sintsef-BA acredita na luta por uma sociedade mais justa. Que, no caso do Brasil, passa necessariamente por questões tão profundas quanto polêmicas, que quase nunca aparecem no centro dos grandes debates - e ainda menos na pauta de manifestações. Como uma reforma política, capaz de ampliar a representatividade dessa mesma juventude que está nas ruas e desconfia dos representantes que elegeu. Ou mesmo a taxação de grandes fortunas, que permitiria que o Brasil avançasse em direção à justiça fiscal e social.
Não é possível seguir na luta pelos ideais de igualdade, fraternidade e liberdade, que inspiram qualquer manifestação social que se preze, e seguir indiferente à ação dos grandes grupos financeiros (como os bancos e suas altíssimas taxas de juros ou os barões da mídia) que concentram cada vez mais renda e poder e interferem no processo político da nação. Não há mistérios: para que uma revolução aconteça, alguém precisa ceder.
É preciso estar atento, ainda, para não desvirtuar o foco do movimento e às adesões de setores que semanas atrás, que, escudados na defesa do direito de ir e vir e ignorando, na mesma medida, o direito de manifestação em um regime democrático, exigiam mais rigor do Estado no combate aos manifestantes.
Também é preciso cuidado com o teor das reivindicações. Esta não pode ser uma luta moralista que espetaculariza os atos de corrupção e condena o governo e a classe política como um todo. Este discurso já foi usado como bandeira no passado e levou-nos ao golpe militar de 1964, que durou 21 anos.
Vivemos numa democracia. Foi o povo quem elegeu o Congresso e exerceu, através do voto, sua vontade soberana. Utilizamos este sistema para escolher os representantes políticos mais adequados aos nossos interesses. E é só através dessa mesma legitimidade, conferida pela escolha popular, que devemos transitar.
Um país com as dimensões do Brasil, com uma carga histórica de injustiça social e interesses divergentes, exige, no mínimo, um espírito negociador para ser governado. Dar espaço para as mais diversas expressões ideológicas: isto também é democracia. O que não quer dizer que devemos nos sentar e esperar passivamente pelo que desejamos.
Transformações estruturais só são possíveis de se realizar quando vêm da base da sociedade e não estão atreladas aos velhos sistemas que desejamos ver rejeitados. A luta que nos interessa é contra a burocratização do poder público, por um maior diálogo com os movimentos representativos da sociedade civil organizada. Isso é bom e é possível, ao criarmos condições objetivas que permitam mudar a correlação das forças reais.
As sucessivas crises mundiais de alimentos, energia, saúde, clima, finanças e economia provam que o sistema que vigora hoje não se sustenta mais. É hora, pois, de mudá-lo. A crescente insatisfação popular aponta-nos para um caminho do desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza. Mas apenas iniciamos esta caminhada. E ela precisa prosseguir livre, através do exercício pleno da cidadania. Independentes e firmes na luta é que seremos agentes do nosso próprio destino.
SINTSEF-BA
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